O objetivo deste artigo é analisar de que forma a democracia tem sua qualidade dependente de expedientes de valorização da sociedade e do cidadão. Em contextos de ‘demonização da política’, efeito da frustração diante das promessas não cumpridas pelos partidos e pelos governos, surgem manifestações de resistência que reivindicam refundar o sentido da relação entre ética e política. Nelas, o diálogo e o trabalho coletivo parecem indicar um certo cariz democrático às interações sociais. Nesta perspectiva, buscou-se apreender o sentido da participação cidadã expresso nas recentes ocupações de escolas públicas no Estado do Rio Grande do Sul. Assim, interessou-nos verificar os efeitos formativos, as aprendizagens ocorridas a partir da interação entre duas escolas ocupadas e dois coletivos de jovens (Contraponto e Conceito-Arte) que desenvolvem ações de educação social, ainda que mais ou menos irrefletidas conceitualmente.
Metodologicamente utilizou-se da observação participante, de conversas informais, de análise documental e de entrevistas. O referencial teórico situou-se no que Jürgen Habermas e Paulo Freire destacam na comunicação e no diálogo enquanto aportes à conscientização e/ou à qualificação da experiência democrática. Assim, na análise dos dados buscou-se examinar em que medida o sentido intencional dos processos de sociabilização, por meio do diálogo, favoreceram a conscientização, o fortalecimento da participação cidadã e da emancipação social, categorias medulares na educação popular e na educação social. Os resultados indicam que a resiliência diante da realidade educacional e política adversa, acrescida dos valores e saberes partilhados na interação entre os grupos em estudo, alargou o campo cognitivo e a relação com práticas culturais, especialmente no que representaram como experiência de luta por direitos, como domínio de práticas educativas alternativas e como aperfeiçoamento democrático da convivência social.
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