A presente investigação procura analisar, em O Evangelho Segundo Jesus Cristo e Caim, de que modo José Saramago, através do percurso agónico das suas personagens na trama da vida fática, aponta a salvação individual do homem moderno, na relação que mantém consigo e com o Outro. Partindo do pressuposto de que nos textos do nobel português a figura de Deus, intolerante e megalómana, é protótipo de violência e irracionalidade sem limites, procuraremos compreender de que modo está latente no discurso do autor a negação de um tempo e de um lugar inexistentes – Éden, céu ou paraíso – e a aceitação e defesa da urgência de agir em qualquer lugar do mundo, num futuro presentificado, cuja realidade incomoda e angustia. Assim, a tese que pretendemos defender é que as obras saramaguianas, palco do literário, ao questionarem um Deus tirano e omnipotente, sedento de poder, protótipo de outras forças despóticas e alienantes, apontam um caminho de salvação messiânica para a modernidade: a busca de uma identidade socio-religiosa não mais “herdada”, mas construída num percurso que se orienta e cristaliza em disposições, interesses e ideais de dimensão moral e ética, porque é ao homem que cumpre, exclusivamente, a tarefa de buscar – pela autognose e pelo compromisso individual da ação, num tempo e espaço concretos – a sabedoria ética da plenitude da existência na vida fática. Esta é uma demanda de urgência da contemporaneidade, tempo de expetativas cada vez mais incertas quanto ao futuro.
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