Não sei se, na verdade, se ensina literatura. Mas qualquer coisa que se parecer com isto – ensinar literatura – tem que nascer de uma vibração conjunta de quem mostra e de quem vê pela primeira vez. Caminhar junto e descobrir sempre que as malhas do texto são infinitas. Venho portanto falar de sala de aula e de seminário, de circulação de saberes e de desejos, de uma atenção ao corpo sensível do texto que deve impactar, comprometer a linearidade da percepção, desalojar os sentidos prévios, encantar, seduzir, entendida a palavra em seu sentido primeiro de desviar do caminho. Venho falar de uma fala sem autoritarismo que, para lembrar Barthes no seu belíssimo ensaio – “Au séminaire” (no Seminário ou para o Seminário, como se quiser, nessa deliciosa anfibologia da preposição francesa) – é basicamente maternal. A maternagem, segundo Barthes, é essa forma generosa de ensinar em que a mãe não se põe a explicar ao filho como se anda; também não anda na frente para que ele a imite, simplesmente se afasta, abre os braços e espera. Será talvez esta uma possível forma de ensinar literatura.
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