A primeira metade do século XX testemunhou em todo o mundo uma série de acontecimentos que viriam a mudar social e culturalmente os povos. Em Portugal é instituído, em 1933, o Estado Novo, regime autoritário que vigorou até 1974. O Teatro de Bonifrates em Portugal apresenta, durante este período, matéria de extrema importância para o estudo desta arte do espetáculo no contexto artístico e pedagógico.
Verifica-se o aumento da atividade bonifrateira assente num teatro de marionetas tradicional, com as personagens tipo; figuras subversivas, que serviam de arauto do descontentamento do povo face à política de repressão em que vivia. Mas, nos anos 60 a tradição desta arte – que era essencialmente popular – começa a perder clientela, constituída por um público fundamentalmente rural, o qual deixa de ver interesse nas suas representações, em detrimento de outros divertimentos. Eis que a classe letrada encontra nos fantoches um filão a explorar, fazendo com que os bonecos tradicionais viessem a ser resgatados do inevitável esquecimento.
O teatro de bonifrates tradicional em Portugal goza – ao longo de grande parte do século XX – de boa saúde. Grupos de bonecreiros com experiência herdada de pais para filhos ao longo de gerações – cujos repertórios de cariz religioso, inspirados em episódios bíblicos – percorriam as aldeias e vilas do interior alentejano. Empresários de pavilhões itinerantes de bonifrates assentavam arraiais nas feiras e festas de norte a sul do país, levando às populações vários espetáculos de marionetas. Titereiros a solo montavam as suas barracas nas praças e nas praias durante os meses de estio, divertindo miúdos e graúdos com as tropelias dos seus robertos.
Ao longo dos quarenta e um anos de ditadura salazarista, entre 1933 e 1974, estes bonecreiros veem-se compelidos a contornar os obstáculos que se lhes deparavam pelo caminho, criados pelo aparelho do Estado Novo. Inquietações políticas aparte, a partir dos anos 60 o teatro de bonifrates começa a verificar um gradual declínio, fruto das transformações tecnológicas, da evolução das estruturas da sociedade e das consequentes mudanças de mentalidades da população. Esta decadência que ameaçava a sua extinção não passou, contudo, despercebida de alguns historiadores e outros indivíduos da cultura, os quais se empenham no levantamento desse património, intentando a sua preservação. Paralelamente, pedagogos e demais intelectuais encontram no bonifrate um auxiliar no desenvolvimento das suas práticas pedagógicas. Impelidos por novas teorias relacionadas com a educação da criança irão recorrer ao boneco de luva introduzindo-o em espetáculos para a infância e também nas escolas, por via da construção e manipulação de fantoches.
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