O presente artigo analisa a formação de uma cultura de consumo na França das décadas de 1770 e 1780, enfatizando a contribuição da anglomania nesse processo. Nas décadas estudadas percebe-se uma busca por inspiração na Inglaterra, tanto no campo político como no cultural, por meio da emulação de costumes e trajes ingleses. Entendemos ainda que os trajes do período, de acordo com Roche (2007), criavam uma cultura das aparências que delimitavam as hierarquias, definindo o pertencimento e as demarcações dos grupos sociais. Nesse sentido, Ribeiro (2001) afirma que um novo entendimento cíclico sobre a moda permitiu que novas tendências de vestuário, cada vez mais popularizadas e de fácil acesso, fossem estabelecidas, o que alterou dramaticamente a base da cultura das aparências, necessária para a manutenção das práticas e representações do Ancien Régime. Defendemos que o entusiasmo da anglomania se fez presente não apenas nos trajes, como tendência a ser seguida, mas também influenciou o entendimento da sociedade e da política. Trajes esportivos, confortáveis e propícios para atividades ao ar livre aliaram-se a questionamentos sobre a sociedade de corte e a monarquia absolutista. Junto com as práticas indumentárias, veio a exaltação da naturalidade, da espontaneidade e da liberdade, em contrapartida ao controle do corpo e dos sentimentos. O modelo burguês trazido da Inglaterra, além disso, fortaleceu e ampliou uma cultura de consumo que já florescia em Paris. Dessa maneira, visamos demonstrar como a relação Inglaterra-França, nas décadas finais do Setecentos, no campo sociocultural, associou-se com os ideais revolucionários.
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