Brasil
Estudos com famílias geralmente enfatizam aspectos deficitários e negativos da convivência familiar focando desajustes e falhas. O interesse pela resiliência em famílias, vem contribuir para reverter essa lógica demonstrando aspectos sadios do mundo familiar. Entretanto, o termo resiliência traz controvérsias ideológicas, agravadas quando se trata de famílias e pobreza. Para minimizar contradições, este estudo partiu de um conceito amplo e sistêmico de resiliência definida como “conjunto de processos que possibilitam superação de adversidades”. Foi realizado um estudo de caso com uma família de baixa renda, moradora de um bairro categorizado como “muito pobre” do extremo sul do Brasil. As estratégias metodológicas para o estudo formal da família foram: história de vida nos moldes da entrevista reflexiva, genograma e análise dos dados através da grounded-theory. Os resultados confirmaram que a família vivenciou várias experiências de risco como, adoção, privação de necessidades básicas, migração e doenças. Dentre os indicadores de “superação de adversidades”, o sistema de crenças da família emergiu como eixo norteador dos relatos. A família mostrou que valoriza as relações interpessoais através de interações intra e extrafamiliares formadas em padrões de ajuda, aprendizagem, afeto e solidariedade. Diante de crises, a família busca a compreensão e o sentido das dificuldades para manter o controle da situação pela organização, coesão, comunicação aberta, respeito mutuo e busca de apoio na família extensa e na rede social. O período pós-adversidade é percebido como transformador e benéfico, e o grupo familiar se sente mais forte e com sentimento de solidariedade, uma marca desta família. Sua postura em relação à vizinhança é ativa no sentido de promover o bem estar de outras famílias do mesmo endereço social. Seriam os processos acima identificados adequados para definir “resiliência em família”, ou apenas sugerem a adaptação do grupo às normas sociais dominantes?
Generally, researches with families focus the difficulties and the negative aspects of family life by bringing up their maladjustments and failures. The interest in family resilience contributes to change this logic by demonstrating the healthy aspects of the family world. Nevertheless, the term resilience presents ideological controversies which are more severe when the discussion is about families and poverty. In order to diminish these contradictions this study adopted a systemic concept of resilience which refers to “those processes that make possible to overcome adversities”. A case study was realized with a low income family who lived in a “very poor” neighborhood in the deep south of Brazil. The methodological strategies to the formal investigation of the family were: life history of the family using the principles of reflexive interview, genograms and data analyses through the approach of the grounded theory. The results showed that the family lived a number of risk experiences such as adoption, privation of basic needs, migration and diseases. Among the indicators of their abilities of “overcoming adversities”, emerged the belief system as the core of the discourses. The family showed that they value the interpersonal relationships through intra and extra familiar interactions based in the patterns of help, learning, affection and solidarity. During the crisis the family gives meaning to the difficulties in order to maintaining the situation controlled through cohesion, open communication, mutual respect and getting support of the extended family/ social network. The pos-adversity period is perceived as benefic and transforming as the family feels stronger and with feelings of solidarity, which is a mark of this family. Their attitude in relation to the neighborhood is active in the sense of promoting the welfare of other families who live in the same social address. Would those above identified processes be adequate to define “family resilience” or they only suggest the group adaptation to the social dominant norms?
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