Coimbra (Sé Nova), Portugal
This article uses Michel Foucault’s stimulating text, Du gouvernement des vivants, to discuss the manner in which in Western modern societies the practices that aim at intervening in homelessness demand that each homeless individual repeatedly states the ontological flaw (e.g.mental illness, laziness, alcoholism, drug addiction) that supposedly makes him homeless and shows his willingness to correct it under the guidance of another. The dominant model of welfare intervention in homelessness considers re-subjectivation as the only possible solution to each individual case of homelessness and this intimate transformation is inseparable from the demand that each homeless individual tells the truth about himself. However, in homelessness, these statements of oneself do not take the form of biographic injunctions since, strictly speaking, access to a consequent biography is denied to the homeless. Rather, by being required to expose his inner self, each homeless is given an ontological injunction to state the truth of their fundamental intimate error, an error that they can never fully overcome but that they must show themselves resiliently willing to correct notwithstanding the absence of a significant possibility of success.
Partindo da leitura da obra seminal de Michel Foucault, Du gouvernement des vivants, este texto discute o modo como, no modelo societal moderno ocidental, as práticas de intervenção sobre a vida na rua exigem que cada sujeito sem-abrigo enuncie, de forma repetida, a falha ontológica (e.g., doença ou deficiência mental, preguiça, alcoolismo, toxicodependência) que, supostamente, o faz viver na rua e mostre a sua disposição para a corrigir, transformando o seu íntimo errado sob a orientação de outrem. No modelo dominante de intervenção sobre a vida na rua, a ressubjetivação é considerada como a única solução possível para a saída da rua e esta transformação íntima é indissociável da exigência de que cada sujeito sem-abrigo diga a verdade de si. Contudo, na vida na rua, estas enunciações de si mesmo não assumem a forma de injunções biográficas pois, em rigor, o acesso a uma biografia consequente é negado aos sem-abrigo. Antes, ao ser-lhe exigido que exponha seu íntimo, cada sem-abrigo recebe uma injunção ontológica para enunciar a verdade do seu erro íntimo elementar, erro esse que nunca poderá superar totalmente, mas que deve se mostrar disposto a, resilientemente e sem uma possibilidade significativa de sucesso, corrigir.
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