A Senhora Entre “Perros” e “Cabrões”: Mediadora Social e Cultural em Carção

• Luís Vale ^[1]
  1. [1] Escola Superior de Saúde de Gulpilhares, Instituto Piaget, Vila Nova de Gaia
• Localización: Festividades, Culturas e Comunidades: Património e Sustentabilidade / coord. por Rita Ribeiro, Emília Araújo, Márcia Silva, Alberto Fernandes, 2022, ISBN 978-989-8974-76-1, págs. 107-119
• Idioma: portugués
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  • Em Carção, locus privilegiado de coexistência e dinâmicas entre culturas e práticas religiosas, conhecida e reconhecida como a “terra dos judeus”, convivem duas comunidades — cristãos velhos e cristãos novos. Nesta comunidade dividida, a santa e padroeira de Carção é catalisadora de congregação e esforços, dissuasora de tensões sociais e promotora do reforço identitário e de sentimentos de pertença. A festa acontece sempre no último fim de semana de agosto e é considerada pelos locais como o “Natal de Carção”, pois é quando todos, designadamente os emigrantes, procuram regressar à aldeia para estar presente nas festividades. Neste texto, analisamos a festa, a sua história e as suas diferentes dimensões, assim como as clivagens existentes entre as duas comunidades na contemporaneidade (identidade, institucionalização da predominância judaica, nomeação, manifestações culturais populares, semiótica do espaço), da ocultação à afirmação. A festa da Senhora das Graças é, neste quadro, celebração de fé, mas também de identidade, de pertenças, de poder económico, de sucesso individual e coletivo, de rivalidades e memórias da aldeia.