Felipe Gonçalves Pinto, Marcelo Senna Guimarães
As reflexões sobre o rádio realizadas na época do surgimento desta tecnologia de comunicação oferece elementos para pensarmos a produção de produtos educacionais digitais hoje, quando temos à mão um outro dispositivo técnico que permite a produção de podcasts. Entre o final da década de 1920 e o início da década de 1930, Walter Benjamin, Bertolt Brecht, Ernst Schoen e outros [autores, produtores, artistas] pensaram o potencial comunicacional do rádio, considerando sua função social, sua audiência e o modelo dos programas que então podiam ser produzidos. Benjamin indica a oposição entre uma cultura de acúmulo e guarda do conhecimento, cujo centro é o livro, na qual o ensino é entendido como transmissão filantrópica de um mestre douto a discípulos incultos, e uma outra concepção formativa de caráter comunicacional, própria à modernidade do rádio e de seus ouvintes. A radiodifusão possuía em suas próprias bases tecnológicas o potencial de ampliar progressivamente o espaço público de fala e escuta, de reflexão dialógica e de crítica. A análise diagnóstica da função social do rádio, enquanto instituição cultural, mostra que ela caminhou no sentido da restrição daquele potencial, limitando-se à propagação unilateral da mensagem, como transmissão de informação de um para muitos, e à instrumentalização das transmissões como propaganda mais ou menos explícita para massas de ouvintes passivos, sujeitos à manipulação e moldados para o consumo. A audiência, constituída por indivíduos solitários, tende a aderir a programas no formato do entretenimento. Entrevê-se a possibilidade de criação de modelos de programa que proporcionem o entretenimento e algo mais. Esse algo mais foi experimentado por meio de exercícios da atenção, da memória, da linguagem e da capacidade de julgar dos ouvintes, orientados para a ampliação inclusiva do debate público conjugado com o acesso a informações relevantes para participação na construção de um mundo comum. A exploração de potencialidades latentes permite adequar os meios técnicos e dar ao rádio um lugar próprio entre os procedimentos artísticos, na busca da promoção de um engajamento cognitivo e estético dos ouvintes.
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