Na sua obra mais conhecida, Maquiavel mostrou como o príncipe nunca é avaliado por aquilo que é, mas segundo o que parece ser. O político deve, portanto, agir como um hipócrita, como um ‘grande simulador e dissimulador’, para manter o apoio do povo sobre o qual o seu poder assenta. Contudo, a hipocrisia não equivale simplesmente ao engano dos governados pelos governantes. Face à divisão social subjacente ao estado, ela desempenha na verdade um papel fundamental na constituição imaginária de um poder soberano capaz de impor a unidade e a estabilidade sobre a vida colectiva. O nosso objectivo é indagar o uso da hipocrisia por forma a enfatizar a distinção introduzida por Maquiavel entre virtude moral e ‘virtù’ política. Além disso, tentaremos demonstrar de que maneira a hipocrisia é apresentada enquanto parte integrante de uma estratégia mais ampla contra os efeitos imprevisíveis do tempo, simbolizados através da metáfora da ‘Fortuna’.
In his most famous work, Machiavelli showed how the prince is never assessed by what he is, but according to what he appears to be. Therefore, the politician needs to act as a hypocrite, as a ‘great pretender and dissembler’, to maintain the support of the people on which his power relies. However, hypocrisy does not simply mean deception of the ruled by the rulers. Given the social division which underlies the state, it actually plays a fundamental role in the imaginary constitution of a sovereign power capable of imposing unity and stability on collective life. Our aim is to question the use of hypocrisy in order to emphasize the distinction introduced by Machiavelli between moral virtue and political ‘virtù’. Furthermore, we will try to demonstrate how it is presented as part of a broader strategy against the unpredictable effects of time, symbolized by the metaphor of ‘Fortuna’.
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