Surgidos no século XVI, foi porém no seguinte que os embrechados se consolidaram enquanto manifestaçãono nosso país. Inovadora, no desempenho das cores, texturas e materiais a que recorre a arte etécnica do embrechado, marcou indubitavelmente aquela que foi a época de apogeu do jardim maneiristaportuguês, de propensão para o mágico. A liberdade plástica que esta arte oferecia face a outras é uma dascaracterísticas que contribuiu para o seu sucesso e aceitação, na procura de novas e insólitas soluções etratamentos. Crespo, texturado, rústico ou arquitectónico, por vezes rutilante, excêntrico, opulento, íntimo,deleitoso e misterioso ou, austero, depurado, telúrico e até catártico, compósito e estranho, decorativo eilusionista, este revestimento acompanhou e distinguiu grutas artificiais, fontes e demais arquitecturas dejardim ou de devoção, como nichos, oratórios ou ermidas.A prevalência destes elementos decorativos no Sul do território, menos disseminados no Norte, revela--se numa estética que, tal como o azulejo, vive e valoriza os brilhos e as transparências, uma estéticareconhecidamente do Sul, num sentido mais refinado, de maior contenção formal, próxima de um conceitode espaço estático e mágico, imaterial, em oposição ao granito do Norte, mais plástico e dinâmico.Experimenta-se nos brilhos e transparências dos embrechados um temperamento intimista, num contextode sentimento contemplativo e passivo tão caro à nossa essência.Os mais admiráveis trabalhos de embrechados, no que respeita à erudição compositiva, de materiaisenvolvidos ou mesmo de carácter dimensional, ocorrem e desenvolvem-se no conturbado período após ogolpe de 1640. Para tal foi determinante o comportamento da nobreza, dos titulares das casas e famíliasassociadas às Guerras da Restauração, enquanto encomendantes de produções arquitectónicas onde consubstanciarama exortação e a celebração dos feitos nos quais foram parte activa, assim como vincado oseu posicionamento político e social na consolidação da mudança que se operou. Destes, são exemplosincontornáveis e únicos na Península Ibérica, que subsistem até aos nossos dias, o Horto e Ermida do Paçodos Henriques em Alcáçovas, e a Casa de Fresco e demais arquitecturas de jardim do Palácio Fronteiraem Lisboa.
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