As universidades brasileiras, de modo geral, têm sido constantemente acusadas de reproduzirem o sistema autoritário vigente até há bem pouco tempo em nossa sociedade, sendo esta causa a mais apontada como responsável pelo baixo nível dos profissionais egressos de algumas de suas áreas. Por outro lado, nós, professores, sabíamos que a Universidade ainda era um dos poucos ambientes de trabalho onde a liberdade de pensamento era respeitada. Com efeito, nas universidades públicas a ementa das disciplinas e seu próprio conteúdo, a escolha de temas de pesquisa ou a produção científica, de modo geral, tanto do corpo docente como do discente nunca foram patrulhados por quem se esperaria que pudesse fazê-lo. Em suma, as atividades propriamente ditas acadêmicas têm seguido seu curso normal nos últimos anos que se seguiram à abertura política de 1979. Referida abertura, entretanto, propiciou um clima benéfico de crítica que se espraiou especialmente entre os estudantes, os mais atingidos pela mordaça imposta pelo regime, e que, pela primeira vez, se sentiram participantes da sociedade enquanto cidadãos. Gerou-se, então, um processo absolutamente normal de conflitos e contradições - alguns verdadeiros outros falsos -, agora explícitos, onde os professores eram apontados como "classe opressora" enquanto que os alunos sentiam-se como a "classe explorada e oprimida", por todo o aparato administrativo-burocrático da Universidade. Supostos vilões e heróis se confrontavam atendendo aos princípios de uma "teoria da conspiração" que tornava, muitas vezes, o convívio acadêmico penoso, tedioso e desgastante.
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