Em tempos recentes, questões relativas à compreensão da Tradição vêm sendo de novo postas, gerando, não raras vezes, um clima de ambiguidade e tensão. Clima esse que parece ter se acirrado durante o pontificado de Francisco, sobretudo, no bojo das discussões acerca da sinodalidade eclesial. Nesse contexto, repropomos a contribuição pioneira de J.A. Möhler (1796-1838), ilustre representante da Escola de Teologia católica de Tübingen. Operando uma releitura da regra de Vicente de Lérins (“Quod ubique, quod semper, quod ab omnibus”), em diálogo com as categorias de historicidade e organismo vivo, próprias de seu tempo, propõe a concepção de “Tradição viva”, caracterizada por três fatores: fator místico, presente na vida coletiva da unidade no amor; fator orgânico, expresso na continuidade viva e dinâmica do desenvolvimento na unidade; e fator ativo, mediado pela necessidade histórica da Igreja visível, lugar vital das sagradas escrituras. Concebido, portanto, à maneira de um crescimento orgânico, o desenvolvimento na compreensão da fé não compromete minimamente a doutrina imutável, mas, ao contrário, torna-se expressão privilegiada, posto que criativa, de fidelidade à Tradição.
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