Este artigo traduz pontos da pesquisa qualitativa exploratória, que espraia-se sobre o compartilhamento memorial através da oralidade, entre os participantes do movimento sócio-religioso dos monges barbudos de Soledade e seus descendentes, buscando indícios da memória herdada sobre o trágico conflito em 1938. Os acontecimentos iniciaram com a passagem do andarilho chamado João Maria pelas terras do agricultor André Ferreira França (Deca), no Rio Grande do Sul, ao pé da Serra do Botucaraí, interior de Soledade, e avançaram com uma legião de seguidores de João Maria que identificavam Deca como guia espiritual e benzedeiro. Os barbudos avolumaram-se, organizaram-se, cooperavam entre si, buscavam preservar os recursos naturais, usavam benzeduras e ervas curativas e cultivavam uma forte religiosidade. A margem de padrões religiosos e comerciais, acabaram, como outros movimentos semelhantes, gerando medo. Medo do desconhecido, medo do outro, onde a incompreensão dos motivos ou razões do modo de vida do outro, levaram e levam a classificação do “eu” e do “outro”, do “nós” e do “eles”, dos “bons” e dos “maus”, e consequentemente, à necessidade de purga do medo generalizado, do medo coletivo, pela força e violência.
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