Socorro, Portugal
Neste ensaio apoio-me na análise intermedial de filmes coloniais portugueses para reflectir sobre como o uso de mapas no cinema serviu ideologicamente a propaganda ao colonialismo português e como esse uso perdurou nos cinemas de libertação e pós-independências mas também como as mascaradas indígenas, fixadas e projectadas pelo seu exotismo ou como sintomas da menoridade cultural dos povos não ocidentais, paradoxalmente foram modos de resistência cultural enquanto serviram também o desejo de empoderamento, simbólico, dos seus actores.
Começo por reflectir sobre como a análise intermedial pode contribuir para revalorizar o conhecimento sobre culturas não ocidentais e ultrapassar o pensamento abissal, que se mantém dominante. Problematizo a exploração cinematográfica do exotismo em mascaradas propondo algumas questões sobre a representação do homem branco nas “dramatizações” indígenas. Através da análise de algumas sequências de filmes coloniais evidencio a mise en âbime criada, involuntariamente, pela projecção que o colonizador branco fez das mascaradas: ao usar a tecnologia – também cinematográfica – para afirmar o poder de contar a história e mostrar o suposto primitivismo das culturas colonizadas, projectou também a sua imagem satirizada e desempoderada quando encarnada pelos supostos primitivos. Adicionalmente, questiono como se processou e ainda processa o uso de mapas nos filmes (pós)coloniais.
In this essay I rely on the intermedial analysis of Portuguese coloniao films to reflect on how the use of maps ideologically served the propaganda to Portuguese colonialism through cinema, remaining uncriticized, but also as the indigenous masquerades, filmed and projected by their exoticism or as symptoms of the cultural minority of non-western peoples, paradoxically were modes of cultural resistance while also serving a desire for the symbolic empowerment of its actors.
I begin by reflecting on how intermedial approach can contribute to overcoming abyssal thinking, which remains dominant. I problematize the cinematic exploration of exoticism in masquerades by proposing some questions about the representation of white men in indigenous “dramatizations”. Through the analysis of some sequences of colonial films, I highlight the mise en âbime created, involuntarily, by the white colonizer's projection of masquerades: by using the technology - also cinematic - to affirm his power to tell the story and to show the supposed primitivism of the colonized cultures, he also projected its image satirized and disempowered when embodied by the supposed primitives. Additionally, I question how the use of maps has been and still is processed in (post)colonial films.
© 2001-2024 Fundación Dialnet · Todos los derechos reservados