Fábio Lucas, Ana Cláudia Paschoal
A abordagem sociocognitiva da narrativa fantástica (ou portadora de elemento sobrenatural em geral) tem por objetivo compreender as razões que permitam a construção do sentido numa narrativa de ficção que, embora realista, apresenta eventos inverificáveis e ou irreproduzíveis na realidade referencial, orientada pelas Ciências Naturais. Estudos preliminares (Pierini 2017) permitem afirmar que, por exemplo, o fantástico é um gênero narrativo que se consolida no século XIX em reação ao desaparecimento acelerado da sociedade europeia até então baseada em relações forjadas no decorrer do Neolítico. Essa reação se deu por meio de narrativas de ficção que apresentam eventos sobrenaturais num mundo em que eles não deveriam ocorrer a partir de um estilo narrativo que se apropria tanto da reportagem investigativa quanto dos relatórios científicos, colocando sub-repticiamente ao leitor que o mundo sobrenatural ainda existe, mas de forma dissimulada. No conto Milagre chué, de João Antonio, encontramos como evidências dessa estrutura os conceitos cognitivos de agência, teleologia e força controladora, mesmo se tratando de uma narrativa que permita mormente a uma leitura alegórica.
The social-cognitive approach of the fantastic narrative (or presenting supernatural elements in general) aims to understand the reasons that allow the construction of meaning in a narrative fiction that, although realistic, presents unverifiable and irreproducible events in the referential reality, guided by the Natural Sciences. Preliminary studies (Pierini 2017) allow us to affirm that the fantastic, for example, is a narrative genre that consolidates in the nineteenth century in reaction to the accelerated disappearance of European society hitherto based on forged relations during the Neolithic period. This reaction has occurred through fiction narratives that present supernatural events in a world where they should not occur from a narrative style that appropriates both investigative reporting and scientific reports, surreptitiously telling to the reader that the supernatural world still exists, but in a disguised way. In Miracle Chué ("A teennie-winnie miracle"), by João Antonio, we find as evidence of this structure the cognitive concepts of agency, teleology and controlling force, even this narrative permits mostly an allegoric reading.
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