Pela definição de Gregory Currie, o Romance de Alexandre é uma “pseudoficção”: um texto que hoje se dá a ler como ficcional, mas que originalmente possuía certo status de verdade, num limiar incerto entre a ficção, a história e a lenda. Isso pode fazer com que ele não pareça exemplar de um gênero que, em regra, tem a ficcionalidade como atributo constitutivo. Esse é, no entanto, um pressuposto que este artigo pretende reabrir, indicando: 1) a concepção tradicional da história do romance que lhe subjaz, a ser substituída, aqui, pela proposição da poligênese do gênero; 2) a discussão sobre o lugar da ficcionalidade num conceito renovado de romance, que atenda ao aumento do corpus implicado na teoria da poligênese. A partir desse enquadramento da teoria e da história do romance, passando pela teoria da ficção, o artigo propõe que, se a marginalidade inicial do romance na cultura erudita se deveu, entre outros motivos, à ambiguidade epistêmica da ficção perante o saber institucionalizado, o status epistêmico ambíguo do Romance de Alexandre pode ter sido importante para a formação do romance, gênero que cavaria para a ficção um domínio social rotinizado. A “pseudoficcionalidade” daquele texto teria colaborado para abrir espaço, no campo letrado, para a exploração aberta da ficcionalidade, assegurando, retrospectivamente, o seu lugar na história do romance.
According to Gregory Currie’s definition, the Alexander romance is a “pseudo-fiction”: a text that is nowadays read as fiction, but which originally had a certain truth status, located somewhere among fiction, history and legend. This might make it seem not exemplary of a genre that, as a rule, has fictionality as one of its constitutive attributes, but this is an assumption that this article intends to reopen, by indicating: 1) the traditional history of the novel that underlies it, to be replaced by the proposition of the polygenesis of the genre; 2) the place of fiction in a renewed concept of the novel, tailored to deal with the enlargement of the corpus implied in the polygenesis theory.
From this framing of the theory and history of the novel, and by discussing the theory of fiction, the article proposes that if the initial marginality of the novel within the erudite culture was due, among other reasons, to the epistemic ambiguity of fiction in relation to institutionalized knowledge, the ambiguous epistemic status of the Alexander romance may have been important for the formation of the genre that would eventually create for fiction a routinized social domain. Its “pseudo-fictionality” might have helped to open space, in the literate field, for the full exploration of fiction, thereby securing its place in the history of the novel.
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