Este artigo analisa dois tipos de narrativa sobre o termalismo europeu – a do luxo, glamour e lazer, por um lado, e a do tratamento de doenças “asquerosas”, por outro – para argumentar que, embora negando-se mutuamente e definindo-se por oposição, estas vertentes são indissociáveis e coexistem formando estratos e camadas que acomodam diferenças de interesses, de propósitos e de classe. Fazendo uso de literatura recente sobre termalismo vinda da antropologia, da sociologia, da história, dos estudos de ciência e dos estudos literários, e de pesquisa empírica relativa a Monchique (Algarve, Portugal), estudaremos a coexistência de diferentes classes de utilizadores de águas termais e analisaremos enquanto fenómeno mediador entre as duas vertentes contrastantes aquilo que chamamos de “cura do lázaro”, ou do indigente paralítico – aquele que, dispensando as muletas “ao terceiro banho”, veicula e materializa a promessa terapêutica, o prestígio simbólico do lugar termal e, por conseguinte, amplia as suas clientelas e os lucros dos empreendedores.
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