Neste artigo, analisamos a obra Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos, apontando o quanto o seu testemunho sobre a ditadura do Estado Novo constrói o inverossímil por meio de recursos realistas. Nesse sentido, discutiremos a maneira como o absurdo da realidade (seja no autoritarismo cego, seja no humanismo inesperado) é tratada sob o ponto de vista de um autor/narrador tão comprometido com a verdade sobre a sua experiência e a de outras pessoas sujeitas à invisibilidade das prisões. Pautando-nos na discussão sobre o realismo, especialmente recorrendo à obra de Adorno e Lukács, estabeleceremos paralelos com a obra de Franz Kafka, mais especificamente O Processo, mostrando as diferentes maneiras de a ficção e o testemunho revelarem o absurdo da vida humana, sujeita à arbitrariedade de um mundo que pouco se entende.
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