Pretendemos explorar o pensamento do filósofo Jean Nabert (1881-1960), com foco em sua obra póstuma (inacabada) Le désir de Dieu (1966). O objetivo é buscar esclarecer a noção de divino, de interesse para uma melhor compreensão da antropologia do homem finito-infinito apresentada por Paul Ricoeur (1913-2005) em L’Homme faillible (1960). Se, na visão de Ricoeur, o homem consiste numa perene mediação entre duas dimensões que constituem seu ser – a finitude e a infinitude –, não podendo ser compreendido por nenhum dos dois polos separadamente, parece que a filiação a Nabert pode ser verificada ao acompanharmos as reflexões nabertianas sobre a noção de divino. Isso porque, segundo Nabert, o divino não coincide com Deus. Ora, não sendo o divino exclusivamente predicado de Deus, ele pode ser estendido ao homem, o que ilumina a noção ricoeuriana de mediação imperfeita. Aos olhos de Nabert, o divino explica a aproximação entre homem e Deus no seio mesmo da experiência concreta, que é sempre finita. Mas finitude aqui engloba fundamentalmente a ultrapassagem da finitude na própria finitude. Para além do que possa nos dizer sobre Deus, parece que a noção de divino tem algo a nos dizer sobre a natureza do próprio homem.
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