A vinculação entre o assombro provocado pelas obras de Marcia Milhazes, e o assombro provocado pela escrita de Maria Gabriela Llansol, dá forma a um enigma que não tem que ver apenas com acaso de terem sido vivenciados por mim, em dado momento da minha vida. Com efeito, considero que este assombro, tão inerente à dimensão do íntimo nas duas autoras, e pelo qual se manifesta ainda o referido caráter enigmático das duas obras, é provocado em ambas por aquilo que podemos nomear de espelhamento entre a paisagem íntima e a paisagem ao redor, sendo o espelhamento ruidoso, contíguo com paisagens solares cariocas – Brasil – em Milhazes, e o espelhamento silencioso em contiguidade com paisagens belgas, em Llansol.
Sem pretenção de desenvolver aqui uma análise comparativa entre as duas autoras, quero apenas sugerir a maneira como este espelhamento se dá, a meu ver, em ambas, nomeadamente no romance-diário Finita da escritora portuguesa Llansol, em que ecoa a mística do amor de Ibn ʿArabī, e no espetáculo de dança Guarde-me, de Marcia Milhazes, no qual a diretora brasileira diz escrever cartas de amor.
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