The purpose of this article is to present an essay on the conception of time elaborated by natives of the reductions of Paraguay in the 18th century. In that context, especially in the middle of that century, there were numerous conflicts between Guarani and Iberian natives that marked the demarcation of new colonial frontiers established between Portugal and Spain, a fact that counted on great indigenous resistance. All this as a result of the Treaty of Madrid that dramatically changed the geography of the province of Paraguay to the point of requiring the Guaranis to evacuate seven settlements that would be delivered to the Portuguese. That episode was seen by the Guarani as a great catastrophe, since they would have to leave behind their communities. During the period of demarcation, the Jesuit Bernardo Nusdorffer was in charge of organizing the transfer of the natives to the Spanish colonial part. In the middle of the war and the great number of dead Indians, Nusdorffer used a prophecy made by an old Guarani in 1733 to interpret those events. His name was Felicitas, whom Nusdorffer had met personally; woman who would have made a terrible prediction about the future of the reductions. This account, recovered by the Jesuit, serves as raw material for this article. Through some notions of Carlo Ginzburg's indicia paradigm, that is, of the catalog of clues, the text seeks to present an interpretative model for the notion of time that would have allowed Felicitas to elaborate a future projection scheme capable of providing the prediction of events.
Este artigo tem por finalidade expor um ensaio sobre a concepção de tempo elaborada por indígenas das reduções do Paraguai no século XVIII. Naquele contexto, especialmente na metade daquele século, houveram inúmeros conflitos entre indígenas guaranis e militares ibéricos que faziam a demarcação de novas fronteiras coloniais estabelecidas entre Portugal e Espanha, fato que contou com grande resistência indígena. Tudo aquilo em decorrência do Tratado de Madrid que alterava dramaticamente a geografia da província do Paraguai a ponto de exigir dos guaranis que evacuassem sete povoações que seriam entregues aos portugueses. Aquele episódio foi visto pelos guaranis como uma grande catástrofe, visto que teriam que deixar para trás suas comunidades. Durante o período de demarcação, o jesuíta Bernardo Nusdorffer foi encarregado de organizar o translado dos indígenas à parte colonial espanhola. Em meio a guerra e ao grande número de indígenas mortos, Nusdorffer se utilizou de uma profecia feita por uma velha guarani, em 1733, para interpretar aqueles acontecimentos. Seu nome era Felicitas, a quem Nusdorffer havia conhecido pessoalmente; mulher que teria feito um terrível prognóstico sobre o futuro das reduções. Este relato, recuperado pelo jesuíta, serve de matéria prima a este artigo. Através de algumas noções do paradigma indiciário de Carlo Ginzburg, ou seja, do catálogo de indícios, o texto busca apresentar um modelo interpretativo para a noção de tempo que teria permitido à Felicitas elaborar um esquema de projeção de futuro capaz de oportunizar a previsão de acontecimentos.
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