Este trabalho se propõe a um diálogo com a obra de Marcelo Marques. Trata-se de uma tentativa de reconstrução, a partir de cinco artigos publicados, do que seria o argumento central de um livro sobre aparência e contradição na República de Platão; um livro que nunca veio a público devido à sua morte repentina. Partimos da apresentação do conceito de dialética como análise do aparecer e aplicamo-lo à tripartição da alma, mostrando que ela pode ser entendida como uma classificação de diferentes tipos de desejo. Na sequência, tratamos de explicitar como, segundo Marques, a distinção entre dóxa e epistḗmē, presente no quinto livro da obra, guardaria traços retóricos de exagero. A suposta distinção de seus objetos se reduziria àquela entre manifestações múltiplas e a unidade do ser das coisas. Finalmente, analisamos a tese de que uma teoria da valoração, introduzida no símile entre sol e bem, impede o colapso da distinção ontológica entre ser e aparecer. Um exame crítico dessa interpretação de Marques tem lugar ao longo da exposição, assim como um elogio a esse intérprete audacioso, que não poupou esforços para questionar o que se supôs como doutrina platônica.
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