O objetivo deste artigo é demonstrar o quanto a cronística urbana, tomada como fonte de saber histórico, tem se revelado uma fonte primordial aos historiadores das cidades, em especial aos que estudam as cidades modernas em suas sensibilidades, tensões e/ou contradições. Trata-se, no caso, de problematizar a fonte literária em questão com base num duplo movimento: de um lado, a identificação do cronista como um letrado que diariamente passeia pela cidade à cata de fatos, banais em sua maioria, desses que são vistos no dia a dia da vida urbana, para que, a partir dessa matéria-prima de todos os dias, possa executar sua vocação literária; de outro, demonstrar, a título de ilustração, as possibilidades de leitura de cronistas urbanos com vistas à apreensão de aspectos vários do cotidiano da cidade, em especial de crônicas voltadas à representação de aspectos relacionados à emergência do moderno e seu avesso, este último traduzido no modo perverso como as chamadas pessoas comuns, mendigos, vagabundos ou prostitutas incluídos, são considerados elementos indesejáveis em todos os espaços modernizados e tomados como expressão de vida civilizada, os quais estariam destinados, em princípio, tão só aos bens nascidos. Serão exploradas, nessa amostragem de cronística urbana, imagens relativas à Londres de Dickens, ao Rio de Assis, Bilac, Lima Barreto e Paulo Barreto (João do Rio), ao Recife de Mário Sette, dentre outros.
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