O estudo do paratexto do escritor e jornalista paulista Raduan Nassar pode indicar pistas pertinentes para a exegese de seus textos ficcionais, que revelem referências literárias ou teóricas indicadoras de uma determinada visão do mundo. Esse procedimento mostra-se eficaz no que tange à sofística e a sua “arte do discurso”, pois permite estabelecer um diálogo intertextual entre Um copo de cólera e O sofista, de Platão. O vínculo entre prática oratória e combate aponta para uma interpretação bem específica da extrema violência que permeia a briga do casal de protagonistas no texto de Raduan Nassar. Tal conflito adquiriria, por momentos, contornos lúdicos, calcados no distanciamento e no cálculo estratégico postos em prática num exercício de manipulação recíproca. O exame de numerosos indícios textuais comprova que os protagonistas são oradores que, embora experientes, não escapam às armadilhas discursivas. O leitor também não sai ileso dessa experiência. Com efeito, a leitura de Um copo de cólera pela lente da sofística e da retórica constitui tanto uma aprendizagem que transcende esse texto quanto uma ferramenta, convertido em ferramenta efi caz para a interpretação de outros discursos, ficcionais ou não.
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