O monopólio tabaqueiro assumiu, desde o início do século XVII, um papel preponderante no crescimento das rendas auferidas pelas Coroas Ibéricas. Actividade a que estiveram associados, de modo expressivo, os núcleos de mercadores cristãos-novos, que, após a conversão geral de 1496-1497, tinhamse dispersado pelo território metropolitano mas, também, pelos espaços ultramarinos, fortalezas e feitorias, que a Coroa de Portugal controlava no Atlântico, no Índico e mesmo no Pacífico. Tal mobilidade possibilitou a muitos homens de negócio o disfarçar das suas origens judaicas – incluindo mudanças onomásticas – mas implicou um estado de vigilância quase constante por parte do Santo Ofício. O tribunal mantinha-se, particularmente, atento aos grupos mercantis que circulavam entre as zonas fronteiriças e os portos marítimos, dada a acessibilidade que os mesmos permitiam para alcançar as Américas. Procurava-se, desse modo, não perder o rasto de gente suspeita de alegada difusão da cultura judaica. Tal o caso dos agentes do tabaco – cedo metamorfoseados em negociantes esclavagistas – cujo comércio com as Índias de Castela iria assumir grande relevância económica no contexto dos monopólios estatais, nos quais se integrava o da renda do tabaco. Assim, tendo em vista as condicionantes mencionadas e outras particularidades, questiona-se: Qual terá sido a influência de toda essa realidade no forjar de identidades e no fixar dos estatutos sociais? Existiria uma forte coesão familiar que ditava os mecanismos de transferência das parentelas, bem como a reprodução dos modelos de cumplicidade pré-existentes nos locais de origem? Ou a descentralização destes vínculos e sua consequente dispersão ditava a escolha de laços à margem da sociabilidade parental? De que modo se articulavam alegadas endogamias familiares e confessionais com a existência de redes de negócio disseminadas pelas principais praças mercantis do espaço europeu? Os vínculos contratuais derivavam das relações interpessoais?
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