O texto examina a intervenção acrítica realizada para reuso do Parador La Solana, em Punta Ballena, que desfigurou aquela obra fundadora da arquitetura moderna uruguaia. Projetada e construída por Antonio Bonet ao final da Segunda Guerra, a obra apresentou valor artístico reconhecido, como atesta sua inclusão no celebre livro “Latin American Architecture since 1945”, publicado por Henry‑Russel Hitchcock em 1955. O caso oportuniza a análise de algumas questões conexas, com destaque para as duas que estão na raiz do problema: a ainda difícil aceitação da arquitetura moderna como patrimônio e a preservação em cidades balnearias, onde os fatores econômicos prevalecem claramente sobre os culturais, solapando a identidade destes sítios. Outra questão relacionada e a recente ampliação cronológica e em abrangência do conceito de Patrimônio (e o consequente crescimento desmesurado de bens salvaguardados), com a inclusão de “bens culturais” que prescindem de requisitos históricos ou artísticos, além da própria arquitetura moderna. O trabalho defende, em última análise, que a inclusão de bens sem mérito histórico ou artístico parece confundir e afrouxar avaliações: primeiro prejudicando a seleção de exemplares, como o necessário valor artístico em arquiteturas modernas, salvo eventuais atributos históricos ou indenitários sólidos; e, a seguir, conduzindo a interpretação equivocada de que a flexibilidade de intervenção para o reuso — “reciclaje” — e uma alternativa abrangente e indiscriminada.
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