Tradicionalmente a partícula ‘nem’ tem sido considerada uma conjunção aditiva, pois se entende que estabelece entre elementos uma relação de acréscimo. Etimologicamente, é proveniente do latim ‘nec’, um dos poucos juntores que restaram nas variedades vernáculas de latim, juntamente com ‘et’, ‘aut’, ‘magis’, ‘ca’, ‘post’ (cf. Nascentes, 1955). Para Neves (2000), ‘nem’ tem o mesmo papel de ‘e’, ou seja, é uma conjunção que marca uma relação de adição entre segmentos negativos coordenados, com significado básico de “e também não”. Como se pode observar, a autora considera ‘nem’ um elemento complexo, indicando acréscimo por meio de ‘e’ e ‘também’, e negação, por meio de ‘não’. Este trabalho tem como objetivo discutir o estatuto desse elemento, utilizando o aparato teórico da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008), tendo como hipótese a de que ‘nem’, tal como ‘não’, representa, morfossintaticamente, o operador de polaridade negativa, acrescida, no entanto, de ênfase. Para isso, utiliza o córpus do Projeto PHPB, constituído de documentos escritos no Brasil, dos séculos XVII ao XX. Os dados analisados revelam que ‘nem’ pode ocorrer numa relação de justaposição entre atos discursivos, ou entre termos de diferentes categorias semânticas, e representa, além da negação, uma estratégia de intensificação, utilizada pelo Falante para atingir seu propósito comunicativo.
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