Socorro, Portugal
O desenvolvimento da ciência no século XX colocou aos físicos novos desafios. As ondas revelavam um comportamento corpuscular e as partículas comportamento ondu- latório. Mas nunca simultaneamente. Essa dificuldade levou Bohr a adoptar o princípio da complementaridade, figura através da qual a contradição entre onda e corpúsculo se vê fixada. A oposição entre onda e corpúsculo é, assim, absolutizada. Penso que foi a não consideração da dialéctica que impediu Bohr de avançar no sentido da resolução daquela contradição objectiva que ameaçava reflectir-se na teoria. Como consequência, é a realidade objectiva, na sua unidade e enquanto totalidade con- traditória, que se vê despedida da teoria. A teoria científica desiste de procurar a cone- xão interna dos fenómenos e a sua tarefa passa a ser a mera ordenação daqueles fenó- menos. Este recalcamento da contradição interna da realidade tem uma segunda consequência em Bohr: a objectividade passa a ser interna à linguagem e passa a ser pensada sob a figura da intersubjectividade. De facto, Bohr, ao colocar a correlação entre objecto e instrumento de medida (ao fazer depender o fenómeno da experiência, da prática huma- na) como a instância em que o conhecimento se funda, está a negar a possibilidade de que haja um conteúdo das representações humanas que não dependa do sujeito, isto é, está a negar a possibilidade da objectividade. Estas são as linhas gerais do que procurarei argumentar.
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