A proposta deste artigo é compreender como e quando a arquitetura moderna emerge como patrimônio cultural no Brasil, a partir da identificação de diferentes discursos e atuações do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, criado em 1937, correspondente ao atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Algumas hipóteses sugerem que o reconhecimento da arquitetura moderna como patrimônio cultural está diretamente relacionado aos seguintes fatores: a busca de afirmação da arquitetura moderna como linguagem oficial na chamada “Era Vargas”; a presença de intelectuais modernos naquele Instituto; a necessidade de autoconsagração dos arquitetos modernos, ao preservar suas próprias obras; a emergência de preservação de obras significativas como ícones da arquitetura moderna brasileira. Nesse contexto, é possível identificar diferentes argumentações que buscam legitimar a preservação de exemplares da arquitetura moderna brasileira como patrimônio nacional: retórica de afirmação do moderno nacional; retórica da consagração; retórica da perda; retórica estética versus critério de ancianidade. Essas diferentes argumentações podem ser identificadas na atuação de intelectuais que promoveram as primeiras ações de preservação do patrimônio moderno brasileiro, sobretudo através de tombamentos, como nos casos da Igreja de São Francisco de Assis da Pampulha (tombada em 1947) e da Catedral Metropolitana de Brasília (tombada em 1967). Como contraponto temporal e conceitual, aborda-se o caso do tombamento do Plano Piloto de Brasília (em 1990), correspondente a uma etapa posterior de atuação do Instituto, na qual se diluem os discursos anteriormente formulados, dando espaço a novas argumentações no processo de reconhecimento do valor cultural da arquitetura e do urbanismo modernos.
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