No presente artigo procuramos discutir a existência e a natureza de territórios de turismo, numa perspetiva geográfica. Começamos por refletir sobre os contornos dos conceitos de turismo e de território e o seu cruzamento no de territórios de turismo. Em seguida, procuramos suportar essas considerações teóricas em análises da génese e das dinâmicas sócio espaciais de territórios de turismo exemplificativos e que nos são familiares, como geógrafa e como turista: costa amalfitana, região litoral em crise refuncionalizada pelo turismo desde meados do século XIX; Campos do Jordão, estância criada pelo turismo de saúde (cura da tuberculose em altitude, à imagem de Davos) e convertida, sobretudo a partir de meados do passado século, em destino de férias de montanha em clima tropical, polarizador das classes altas e médias-altas das grandes metrópoles regionais algo próximas e acessíveis (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte); pequenos núcleos urbanos costeiros fortemente transformados pelo turismo de praia das elites e classes altas desde os inícios do século XIX, destronados pela evolução das práticas e dos transportes (águas quentes, mediterrâneas e tropicais; regiões do Sul e de outros continentes) mas mantendo uma forte atratividade regional quanto a residências secundárias e presenças de fim de semana, pelo mar e a praia, o património edificado, os equipamentos desportivos, a urbanidade do lugar, a qualidade de vida local,como no caso de Trouville; lugares criados de raiz em espaços litoraisvazios e não apropriados, por iniciativa de investidores ousados, com definição clara dos segmentos de mercado a conquistar e paralelamente, dos planos de urbanização, infraestruturas, equipamentos múltiplos, nomeadamente recreativos (casino, hipódromos, estabelecimentos de banhos, passeios marginais, grandes hotéis e vivendas de prestígio), virando costas às práticas da praia, menos elitistas, como no caso de Deauville; territórios de turismo pouco denso, algo difuso em áreas verdes costeiras, ou velhos lugares portuários evoluindo para destinos balneários, que ganharam prestígio pela presença de visitantes ilustres e famosos ou foram promovidos simplesmente pela presença e apropriação de outros com muito dinheiro e comportamentos ostentatórios, como Tamariz, Saint-Tropez ou Cap de Antibes; por fim, refletimos sobre os territórios de vilegiatura rural, do passado e do presente. Finalmente, concluímos: o turismo ocorre em lugares habitados por não turistas, disputa o território de outros, podendo gerar conflitos mas também solidariedades,complementaridades e oportunidades;mas o turismo também cria territórios específicos em vazios humanos, que induzem a fixação de forasteiros não turistas ao serviço das próprias atividades turísticas e que partilham os usos do espaço, profissionalmente ou como espaço de vida; o turismo disputa territórios rurais, territórios de montanha, territórios litorais, territórios urbanos,valoriza os espaços e o património, gera consumos, induz ofertas, atrai promotores, sustenta dinâmicas, o que não significa que todos os territórios marcados pelo turismo sejam sustentáveis ao longo do tempo, face à
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