Delmar Teixeira Gomes, Florence Romijn Tocantins, Fabiana Assumpção Barbosa de Souza
INTRODUÇÃO: A infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) tem acometido silenciosamente um grande número de pessoas, o que contribui para uma alta estimativa da incidência de infectividade pelo vírus HCV no Brasil e no mundo, o que tem se tornado uma preocupação na área da saúde pública (BRASIL, 2008). A transmissão desse tipo de vírus ocorre predominantemente por via parenteral, e principalmente através do compartilhamento de agulha usada pelos usuários de drogas injetáveis. Uma das principais fontes de infecção foi, até 1990, a transfusão de sangue (BRASIL, 2008). Esta situação mudou quando a pesquisa de anticorpos reativos para HCV passou a fazer parte da rotina da vigilância do sangue. Pode-se dizer que ainda existe uma reduzida participação do enfermeiro na prevenção dessa doença, além da necessidade de uma atuação mais sistematizada em relação à promoção da saúde da população. Diante da situação epidemiológica e social, envolvendo a hepatite C, pode-se traçar o perfil dos portadores do HCV, bem como identificar dimensões de vulnerabilidade, com isso priorizar às necessidades sociais e de saúde desse grupo, seja de forma individual ou coletiva para o planejamento de uma assistência com integralidade (AYRES, 2006). O enfermeiro ao identificar o indivíduo ou grupos da população como sujeitos com necessidades de saúde, reconhece o contexto de vida ou situação que esteja sendo vivenciado, incluindo limitações em atividades sociais ou funções fisiológicas que comprometem a saúde, e que condiciona a vulnerabilidade do grupo, conforme as concepções de Tocantins e Souza (1997). Sendo assim, o enfermeiro identifica dimensões determinantes e condicionantes para um melhor respaldo quanto à forma de atuar (CROZETA, et al. 2009), o que permite identificar também as prioridades de assistência e assumir uma responsabilidade muito importante, no sentido de somar esforços a equipe de saúde multiprofissional para minimizar a vulnerabilidade da população ao vírus da hepatite C. OBJETIVOS: Descrever o perfil dos usuários de um serviço de saúde, diagnosticados como portadores do vírus da hepatite C e, Analisar a vulnerabilidade da população para hepatite C, a partir do perfil dos portadores do vírus. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo do tipo transversal, desenvolvido no Centro de Referência em Hepatologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora. A população de estudo foi composta por usuários desse serviço de saúde, diagnosticados como portadores do HCV, entre os anos de 2004 a 2008, com a idade delimitada na faixa etária de 18 a 60 anos. Foram analisados os prontuários de 260 portadores do HCV e após a coleta das informações com base num roteiro contendo 30 variáveis focalizando aspectos sóciodemográficos e relativos à história de vida e de saúde dos portadores de HCV. As informações coletadas foram registradas em banco de dados, através do programa Statistical Package for Social Sciences – SPSS, versão 15.0. Realizou-se a análise univariada das variáveis, em seguida, estas informações foram organizadas, sistematizadas, analisadas, e os resultados foram representados através de tabelas. Posteriormente, foi constituído um quadro de características das dimensões de vulnerabilidades dos portadores da hepatite C, tendo por referencia a concepção de Ayres (2006). Diante dos dados obtidos, utilizou-se também uma análise de conteúdo, fundamentada nas concepções de Bardin (2002). RESULTADOS: Constatou-se que a faixa etária de 41 a 60 anos de idade apresenta a maior incidência. O sexo masculino apresenta um risco epidemiológico maior, com história de uso de drogas injetáveis, inaláveis e álcool; em suas relações sexuais, não faz uso do preservativo, sendo que uma boa parte dos portadores recebeu hemotransfusão até a década de 90. Com base no perfil e nas características gerais das dimensões de vida dos portadores, podem ser identificadas vulnerabilidades nas dimensões individuais e programáticas. Ao caracterizar as vulnerabilidades é importante reconhecer a interdependência entre as diferentes dimensões , o que poderá fundamentar a proposição das ações de saúde, que visem a satisfazer as necessidades sociais e de saúde da população (TOCANTINS; SOUZA, 1997; CROZETA, et al. 2009). CONCLUSÕES: O estudo permite agregar novas maneiras de pensar, valorizar e articular a situação do portador do vírus da hepatite C com a vulnerabilidade da população, e apontar para possibilidades e maior visibilidade na atuação do enfermeiro. As situações de vulnerabilidade identificadas estão relacionadas ao estilo de vida adotado pelos portadores, bem como às características do atendimento nos serviços sociais e de saúde, apontando para vulnerabilidade individual e programática. No caso da vulnerabilidade de grupos para a infecção pelo HCV, cabe afirmar que o enfermeiro deve ficar atento a estas questões e converter as limitações da população em práticas de prevenção do agravo e promoção da saúde. O enfermeiro tem competência profissional para valorizar as dimensões de vida desse grupo de portadores do HCV, bem como as vulnerabilidades apresentadas pela população à infecção pelo vírus. Assim, poderá primar pela integralidade do cuidado e elaborar um plano sistematizado de assistência de enfermagem, conforme a realidade individual do portador e de grupos da população na atenção básica.
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