Em contextos diferentes e apesar da diversidade das heranças históricas, há trinta anos a relação com o passado tende a se unificar, a se « globalizar », a suscitar formas de representações coletivas e de ações públicas que, pelo menos aparentemente, se assemelham cada vez mais de uma ponta a outra do planeta. Isto pode ser observado pela evidenciação de temporalidades comparáveis na cronologia da memória de episódios traumáticos, e mais ainda pela emergência de um novo espaço público mundial que contribui para unificação do lugar respectivo do passado, do presente e do futuro, insistindo no papel da recordação. Entre outros aspectos, esta « globalização » se caracteriza pela crescente importância que a figura da vítima adquire, que testemunha, ainda que tardiamente, seus sofrimentos, especialmente perante cortes de justiça ou comissões de verdade e de reconciliação e, de um modo geral, por ações da sociedade civil em luta para que a tomada de consciência em relação aos crimes do passado resultem em formas de reconhecimento e de reparação públicas sem levar em conta o tempo que passou.
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