Nelson Rodrigues alcança, na peça Senhora dos Afogados (1947), um nível praticamente insuperável de domínio da expressão poética e dos recursos do gênero trágico. Mesmo afirmando desconhecer a tragédia grega e ter apenas contatos descontínuos com a obra de Eugene O’Neill, a peça brasileira descreve um processo inusitado de recepção temática que remete primeiramente a Mourning Becomes Electra (1931) e desta, inequivocamente, à Oréstia de Ésquilo (458 a.C.). A estratégia concebida pelo dramaturgo para camuflar suas fontes foi representar temas autenticamente trágicos como o destino, vingança, hybris e horror, por meio da reinvenção dos mecanismos da tragédia: Rodrigues explora, pois, as propriedades semiológicas do mar, para conectá-las às ações de suas personagens e aos desejos que as aniquilam.
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