Quarto de despejo, em suas várias edições e traduções, a partir de 1960, levou ao Brasil e ao mundo a voz de Carolina de Jesus – negra, moradora de favela, dois anos de escolaridade, mãe solteira de três filhos de pais diferentes. Por suas denúncias contra injustiças sociais e reivindicações de melhores condições de vida, a autora foi erigida como representante de uma classe até então sem voz direta. Tamanha é a força expressiva de sua linguagem que o organizador do diário, o jornalista Audálio Dantas, foi acusado, em várias ocasiões, de ter forjado o diário e até de ter inventado a existência de Carolina. O estudo dos manuscritos de Quarto de despejo nos possibilita trazer à tona essa discussão, e ouvir um pouco mais da voz de escritora. O cotejo dos originais com a obra publicada nos revela de que modo Carolina de Jesus se estruturou como sujeito discursivo em seus cadernos, num perfil ideologicamente distinto daquele em que ela se transformou com a publicação do livro.
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