O objetivo deste artigo é propor o reexame das explicações mais tradicionais sobre a posição do governo soviético com relação à homossexualidade masculina de 1917 a 1934. O argumento central aponta que a descriminalização da sodomia nos primeiros anos da Revolução Russa não significava que a homossexualidade masculina deixara de ser vulnerável à perseguição. Gradativamente, o mito de que a Rússia era uma nação “inocente” acerca da homossexualidade masculina ajudava a construir a imagem da heterossexualidade universal e pura como um padrão natural no tecido social, de forma que a homossexualidade masculina era paulatinamente relegada à Europa Ocidental – vista como reprodutora das “doenças da civilização” – e ao Oriente, concebido como “exótico” e “atrasado”. A criminalização da homossexualidade masculina a partir do governo de Stalin atuou constituindo a identidade da União Soviética como um Estado repressor. Porém, a permanência da subcultura homossexual masculina na União Soviética mostrava a incompletude do aparelho de construção estatal.
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