Algo de novo está a surgir nos movimentos sociais. Nos anos 60, autores como Alain Touraine reflectiram sobre o aparecimento dos novos movimentos sociais, associados a novas arenas do conflito social, como a universidade, os direitos civis de grupos minoritários e a defesa dos direitos culturais. Outras e novas áreas de combate desenham-se na contemporaniedade, abrangendo por exemplo, o combate à info-exclusão, a promoção da cultura cietifica e os direitos associados à liberdade e privacidade na utilização das novas tecnologias da informação.
Na presente comunicação pretende-se apresentar um caso emblemático de movimento social directamente relacionado com a questão da informática: o movimento do software livre. O software livre (que tem como mais emblemático e mediático produto o sistema operativo Linux) pode ser definido como todo o software cujo código-fonte está disponível, sendo portanto possível modifica-lo e distribui-lo sem necessidade de quaisquer autorizações ou pagamentos adicionais. Para além de constituir a base de um modelo alternativo de engenharia em rede, com base na net, onde colaboram diversos programadores de todos os pontos do globo, e onde o próprio utilizador/consumidor final tem direito a intervir, se quiser e conseguir; o software livre é um movimento, com posições políticas e filosóficas próprias. Estas centram-se na luta contra os monopólios empresariais, na liberdade de acesso à informação e nomeadamente no direito à criação e desenvolvimento tecnológico individual.
Simultaneamente, os defensores do software livre encaram este como um meio de combate à info-exclusão, permitindo o acesso à informática em contextos, inclusivamente nacionais, mais desfavorecidos. A existência de associações de promoção e defesa do software livre, a elaboração de manifestos disponíveis para assinatura, o envolvimento de partidos políticos e outros movimentos sociais, a criação de grupos de pressão, no seio dos quais são formados líderes carismáticos, e a partilha de sentimentos de pertença em torno de auto-designada comunidade do software livre constituem outros interessantes indicadores da premência desta discussão.
Sociologicamente falando, o software livre surge assim como um tema de grande interesse, que ilustra uma relação estreita entre a tecnologia e a sociedade, em que se pode ver aquela não só como uma fonte de mudança técnica, mas também como um ponto de questionamento político e social. Por outro lado, trata-se de um movimento de charneira entre o movimento tecnológico, o social, o cultural, e a própria rede de sociabilidade. Finalmente, a sua organização funcional, que, como se verá, é reticular, permite um importante questionamento sobre as formas de construção tecnológica, cultural e identitária em rede.
Na presente comunicação, serão apresentados os resultados de uma pesquisa exploratória sobre o movimento do software livre em Portugal, elaborada no contexto de uma tese de mestrado. Serão apresentados os seus principais protagonistas e àreas de acção, os projectos em curso, as redes de relacionamento entre programadores e o seu envolvimento em acções colectivas de pressão e divulgação deste conceito, procurando-se apresentar uma cartografia da rede nacional associada ao software livre. Será ainda possível desenhar a história sumária do movimento em Portugal, e as relações estabelecidas com comunidades similares fora do país, servindo assim este caso como uma excelente ilustração do carácter global que os novos movimentos sociais apresentam na era contemporânea.
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