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Resumen de A vida como relato nos "blogs": mutações no olhar introspectivo e retrospectivo na conformação do "eu"

P. Sibilia

  • Este artigo aborda uma prática de expressão e comunicação surgida recentemente na Internet: a dos diários pessoais publicados na Web por usuários do mundo inteiro. Numa primeira análise, fenômenos como os dos blogs, dos fotologs e das webcams parecem recriar um hábito cuja sentença de morte já tinha sido decretada, que teve seu auge nos séculos XVIII e XIX e estava fortemente vinculado à sensibilidade da época: a paciente e minuciosa "escrita de si" nos diários íntimos tradicionais. Há, porém, um aspecto muito significativo nessas novas "narrativas do eu": sendo expostas aos milhões de olhos que têm acesso à Internet, as confissões (e as imagens) cotidianas dos autores revelam uma peculiar inscrição na fronteira entre o extremamente privado e o absolutamente público. Intui-se, portanto, uma instigante subversão das fronteiras que costumavam separar essas duas esferas no mundo moderno.

    Por isso, consideramos que essas novas práticas podem oferecer pistas interessantes sobre as fortes transformações que hoje atravessa a produção de subjetividades. São afetadas, neste quadro, várias noções importantes, como as de intimidade e privacidade. Do mesmo modo, a idéia de interioridade perde força, diminuindo a valorização da "vida interior" como o principal eixo em torno do qual as subjetividades modernas eram construídas. Cada vez mais, a "verdade" sobre o que cada um é se desloca desse âmago secreto, radicalmente íntimo e privado, para aflorar na superfície da pele (e das telas). Em vez de nutrir o antigo olhar introspectivo, portanto, hoje assistimos à proliferação de espaços, tecnologias e práticas que permitem e que incitam uma certa "espetacularização do eu" com recursos performáticos. A Internet, nesse sentido, se apresenta como um importante cenário de experimentação.

    Além da introspecção, o olhar retrospectivo também parece estar em declínio nas novas práticas auto-referentes, perdendo seu peso outrora fundamental na hora de plasmar a própria vida como um relato. Assim, portanto, em contraste com algumas formas modernas de atualizar a memória do vivido (do diário íntimo tradicional à psicanálise, passando pelo romance clássico e pelas autobiografias românticas), este trabalho examina os diários pessoais publicados na Internet como sendo tentativas atualíssimas de "recuperar o tempo perdido" em sua vertigem auto-bio-gráfica na era do "tempo real", do "sem tempo" e do presente constantemente "presentificado". Pois a peculiar inscrição cronológica desses novos "relatos do eu" (e a sua insistência na prioridade da atualização permanente) denota outras turbulências. Não é só a profundeza sincrônica (interioridade) do eu que está sendo desafiada nos novos "modos de ser" que emergem no mundo contemporâneo, mas também a sua coerência diacrônica. Sofre alterações, portanto, o valor atribuído a outro fator primordial na constituição da "identidade" individual: o estatuto do passado como um alicerce fundamental do eu.

    Apesar da sua permanência como fatores relevantes, essas noções que desempenharam papeis de primeira ordem na conformação das subjetividades modernas hoje parecem estar perdendo gradativamente seu peso relativo na definição do que cada um é. Acreditamos que certas práticas de "escrita de si" ou de "narrações do eu" que hoje germinam na Internet, como os blogs, os fotologs e as webcams, fornecem prismas privilegiados para analisar tais mutações.


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