As mudanças societárias criaram a sociedade assentada em organizações e estas assumiram um papel central na formatação, na velocidade e no alcance dos processos de transformação social. Mudanças fazem parte do cotidiano das organizações pois estas, sendo construções sociais formadas em torno do alcance de objetivos de eficiência e eficácia, dimensões basilares do modelo burocrático, dependem de sua capacidade adaptativa para sobreviver na sociedade competitiva que ajudaram a criar. A freqüência com que ocorrem e a dimensão que assumem dependem, segundo os analistas organizacionais, da freqüência e intensidade das transformações ocorridas à sua volta. Assim, a relação umbilical entre sociedades e organizações e a interconexão entre estes diferentes níveis permitem compreender a dinâmica social, a partir da análise organizacional.
Neste artigo discute-se como a transformação evolutiva dos modelos de gestão, da tecnologia e dos modus operandi das unidades de informação alteram o arranjo de poder e deslocam os núcleos de decisão nos cenários das organizações de ensino universitário. Esta explicação é construída tendo como base o processo de passagem do modelo fordista para o modelo pós-fordista de produção e a emergência da sociedade da informação. O presente trabalho é fruto de investigações anteriores das autoras somadas aos resultados de duas outras pesquisas anteriores no mesmo campo de estudo. Os dados que suportam a análise interpretativa são, portanto, oriundos de pesquisas realizadas nas décadas de 1970, 1980 e nesta. A primeira classificou os modelos estruturais das bibliotecas universitárias usando como referência a centralização como principal dimensão de análise. Descreveu modelos centralizados e descentralizados ressaltando vantagens e desvantagens de cada um para a política de acesso à informação das universidades. A segunda comparou modelos organizacionais adotados pelas bibliotecas universitárias, identificando as principais variáveis determinantes a fim de orientá-las quanto à adequação da estrutura adotada, sugerindo mudanças e adaptações necessárias. A coordenação sistematizada como referência do modelo estrutural, foi identificada na regulamentação oficial da maioria das instituições, constituindo-se, no entanto, mais discurso do que prática.
O cenário atual revela estruturas mais flexíveis, tematicamente especializadas, articuladas em redes de naturezas diversas, com ênfase no compartilhamento de recursos e referenciadas a um universo informacional global. Parece promover novo deslocamento no núcleo de poder nas organizações universitárias, especificamente em suas unidades de informação. Pressões normativas e legais, competitividade internacional, globalização são elementos importantes hoje na definição de políticas institucionais de informação. Assim, agências e redes especializadas adquirem capacidade de intervenção e controle sobre as ações organizacionais nas unidades de informação. O contexto da sociedade da informação impõe novos desafios aos dirigentes de universitários, entre eles a convivência de estruturas e processos tradicionais, ainda requeridos por alguns setores e atividades acadêmicos, com a busca da modernização na geração e oferta de serviços informacionais.
Embora as pesquisas realizadas nas décadas de 70 e 80, aqui citadas, não tivessem foco nas questões de poder, os estudos realizados pelas autoras deste trabalho na presente década recuperam os elementos que formataram aquelas configurações, ilustrados pela análise da implantação e desenvolvimento do Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Alagoas. Esse mapeamento contribuiu para compreender as amplas mudanças societais ocorridas nas últimas décadas e seus reflexos nas unidades de informação das universidades, por meio de mudanças estruturais, tecnológicas e de poder ocorridas em seu âmbito. A "onipresença" das organizações no mundo contemporâneo indica que é por meio delas que os indivíduos se conectam ao universo macro-societal. Nesse sentido, as bibliotecas universitárias representam elos fundamentais entre os indivíduos e a sociedade da informação, acrescentando complexidade e atribuindo importância ao aprofundamento da análise nessas organizações.
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