Esta comunicação debruça-se sobre os modos como as relações de força que estruturam o espaço social da fábrica moldam e são moldadas pelas diferentes estratégias postas em prática no quotidiano fabril. Servindo-se do material etnográfico das 14 semanas em que trabalhou numa fábrica de mobiliário e em entrevistas registadas junto de diversos operários, o autor analisa, especialmente, os diversos reportórios de acção colectiva e individual mobilizados pelos operários. Ao idioma oficinal de denúncia da exploração, somam-se tácticas de reapropriação, de afrontamento e de distanciamento, no fundamental pontuais e clandestinas, que visam a preservação de margens de liberdade no quadro do próprio processo de trabalho. Por sua vez, as fronteiras de deferência são sustentadas por um vocabulário de motivos e por um sentido de si mesmo que resultam dos efeitos de lugar operados pela objectividade das relações sociais de e na produção. A adesão tácita à ordem da fábrica apoia-se na coincidência relativa entre os esquemas de acção e de visão incorporados pelos agentes e uma realidade social que apresenta todas as evidências da irrefutabilidade e do tido por garantido.
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