Até há bem pouco tempo, a definição e a gestão do risco baseava-se em assunções exclusivamente técnico-científicas. A teoria social do risco veio alterar este estado de coisas, incorporando na sua análise as dimensões sociais, culturais e políticas, que até então não eram tidas em conta. Ainda que com alguma frequência o debate médico, e muito esporadicamente o debate público levantem a questão dos riscos associados aos tratamentos de infertilidade e à reprodução medicamente assistida, os mesmos desenvolvem-se quase que exclusivamente em torno da noção biomédica do risco. Estudos na área das ciências sociais têm vindo a contestar este reducionismo e a apresentar riscos que não são usualmente identificados pela medicina da reprodução. A presente comunicação, embora dê conta dos riscos médicos e dos riscos sociais das tecnologias de reprodução medicamente assistida, procura, sobretudo, explicitar o modo como ambos são definidos e geridos pessoal e quotidianamente por quem os experimenta, os casais envolvidos em tratamentos de infertilidade. Partindo de entrevistas realizadas a estes casais e a especialistas em medicina da reprodução, pretende- se clarificar os pilares sobre os quais assentam ambas as perspectivas, explicitando como assunções muitas vezes contrastantes e outras tão próximas contribuem para as respectivas construções sobre o risco destes tratamentos e para a tomada de decisão, tanto dos médicos, como dos inférteis.
© 2001-2025 Fundación Dialnet · Todos los derechos reservados