Uma das mais recorrentes narrativas sobre migrações é ver os seus agentes como os "novos" cosmopolitas e os representantes de culturas desterritorializadas, viajantes. Estes permitiriam pensar novas formas de cidadania assentes noutros laços que não o Estado-nação bem como na criação de novas paisagens, as etnopaisagens. Em suma, os migrantes seriam as figuras da contemporaneidade por representarem os fluxos e um mundo sem fronteiras. Mas será de facto assim? O que pretendo com esta apresentação é complexificar estes discursos através de uma pesquisa sobre a morte e a sua gestão entre migrantes bangladeshis em Lisboa. O argumento central é que num contexto transnacional a morte é uma forma dos sujeitos pensarem a sua relação com os lugares de pertença e a fixidez. Isto é, a gestão da morte revela que nem tudo é fluxo, que as pessoas continuam fortemente apegadas a lugares, lugares estes cuja própria (re)produção, enquanto territórios de pertença e identidade, se relaciona, dialecticamente, com os fluxos transnacionais em que muitos dos meus interlocutores participam.
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