Remonta aos finais do século XIX a construção de barragens para a produção de energia eléctrica. Mas o pretenso desenvolvimento para as populações circundantes e/ou deslocalizadas em consequência da construção destes paredões de cimento, na maior parte das situações, não passou de uma ilusão. O "progresso" socioeconómico das povoações que sofreram o impacto da proximidade de uma grande barragem, comprova o mito. A maior parte das vezes, essa construção surge com um carácter inquestionável e incontornável, na medida em que o aproveitamento e armazenamento de água sempre esteve associado a políticas de desenvolvimento, que pouco se preocupavam com os problemas sociais e ambientais, a montante e a jusante das barragens. Em todo o Mundo, a construção de grandes barragens foi sendo feita num crescendo, como uma promessa associada à garantia da solução dos problemas hídricos e energéticos e da falta de progresso/desenvolvimento socioeconómico das regiões. Esse desiderato, deu origem a situações de mobilidade compulsiva de populações, que raramente foram consultadas sobre o real impacto, quer da sua localização, quer da sua dimensão. Em Portugal, de entre os múltiplos exemplos que se poderiam apontar, constituem casos paradigmáticos a barragem de Vilarinho da Furna, dos finais do Estado Novo, e a barragem de Alqueva, construída em plena democracia. Em Vilarinho da Furna, com a submersão da aldeia, a sua gente teve que se fixar em diferentes paragens, com a escassa indemnização que recebeu da então Companhia Portuguesa de Electricidade. Já com a construção da barragem de Alqueva, os habitantes da aldeia da Luz foram deslocalizados para uma nova aldeia construída de raiz, mas, volvidos estes anos, estão longe de vislumbrar a concretização das expectativas criadas em torno do "maior lago artificial da Europa".
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