As políticas públicas da água, institucionalizadas em Portugal em 1884, orientaram-se por um paradigma hidráulico / hidrológico que via na construção de grandes obras públicas a solução para uma parte considerável dos problemas económicos do país. Ao longo de todo o século XX, este paradigma de administração secundarizou a satisfação de necessidades sociais primárias, alocando a grande maioria dos recursos disponíveis em três sectores essenciais: os portos, a produção de energia e a hidráulica agrícola.
Contudo, e para além de se apresentar muito deficitária relativamente aos objectivos enunciados, esta linha de actuação política levou à emergência de um fenómeno de artificialização da relação com as águas, que se manifesta na paisagem rural e urbana, mas também em processos de dependência institucional e desresponsabilização por parte dos cidadãos. Este fenómeno é hoje reconhecido politicamente, e considerado indesejável, apresentando-se a noção de participação pública como um instrumento do qual se espera uma transformação profunda na forma como nos relacionamos colectivamente com as águas.
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