Abordamos a defesa da guerra como o "mal menor" que libertará um povo oprimido e garantirá a segurança internacional, nos editoriais do jornal Público de Março de 2003, confrontando a sua retórica de divisão entre Ocidente e Oriente, assente na dicotomização entre "Nós" e o "Outro", com o pressuposto de que os termos carecem de estabilidade ontológica, sendo "feitos de esforço humano, em parte afirmação, em parte identificação do outro" (Said, 2004: XIII).
A influência da comunicação mediática será equacionada entre o seu potencial como instrumento de hegemonia ideológica (Gramsci, 1974: 393) e a sua capacidade de "regular produção de poder legítimo através da linguagem (num sentido comunicacional de abertura dos media ao mundo, à vida e à experiência humana)" (Esteves, 2005: 38).
Se "a política é o lugar, por excelência, da eficácia simbólica, acção que se exerce por sinais capazes de produzir coisas sociais e, sobretudo, grupos" (Bourdieu, 2001: 159), problematizamos a função política destes editoriais na construção de um "nós ideológico" que visa fabricar um consenso que legitime a guerra (Rojo, 1995: 75-76), servindo a clausura auto-referencial do sistema político (Luhmann, 2006: 87), em detrimento do debate crítico-racional (Habermas, 1998: 443).
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