Resumen de Quando a Internet é parte do campo: descrições etnográficas e reprodução humana em websites de saúde
Este trabalho analisa os usos e valores associados à reprodução humana difundidas em páginas da Internet sobre saúde e �infertilidade conjugal� na perspectiva antropológica. Estas reflexões resultam de estudo etnográfico realizado no Rio de Janeiro, Brasil, sobre casais denominados �inférteis� pela biomedicina quando impedidos temporária ou definitivamente de terem filhos biológicos. O estudo contemplou o ponto de vista de casais heterossexuais dos estratos médios letrados a partir de suas trajetórias de vida. Compõem o corpus etnográfico: entrevistas, observação e levantamento de 51 websites e Grupos de Discussões na Internet (jun/2004-jan/2006). Este artigo circunscreve-se à análise dos dados das matérias divulgadas nos websites da Internet sobre o tema da infertilidade conjugal. A Internet é concebida como uma instância de produção e articulação de sentidos que rompe com o modelo dicotômico emissor-receptor em comunicação. Observaram-se concepções naturalizadas sobre a não reprodução biológica concebida como patologia e desvio da capacidade natural dos casais de procriar com significativas diferenças relativas ao gênero. Os resultados apontam as conexões entre a popularização do tema na Internet como assunto de saúde e as condutas sociais. Os usos da Internet refletem o caráter auto-reflexivo na constituição das identidades sociais e apontam os nexos entre a medicalização do corpo, particularmente o feminino, e o fenômeno da individualização na cultura ocidental moderna.
