O texto analisa o tratamento dado pela RTP à assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à CEE (12/06/1985), o segundo maior acontecimento mediático nacional, em termos de mobilização de meios, que decorrera até então após o 25 de Abril de 1974. A progressiva e contraditória aproximação do país às democracias capitalistas ocidentais europeias, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, culmina com a conclusão das negociações de Adesão, em Março de 1985 e subsequente assinatura do Tratado. O trabalho sugere que a Adesão do país à CEE é tratada pela RTP não só num registo puramente noticioso, como também enquanto acontecimento mediático cerimonial, ou telecerimónia, (seguindo a teoria de Dayan e Katz). Estes media events celebram valores tidos por consensuais numa sociedade e funcionam nas democracias como momentos de persuasão catódica e de legitimação das opções políticas dos governantes, procurando obter o apoio da opinião pública. A ampla, minuciosa e protocolar cobertura do acontecimento pela RTP e as longas horas de debates e "telecelebração" promovidas pela emissora parecem erigir-se enquanto primeiro grande momento de "sedução" televisiva dos portugueses para o ideal europeu. As cerca de 14 horas de transmissão fixaram na memória nacional o "rito de passagem" colectivo que ocorreu no Mosteiro dos Jerónimos, afinal um acontecimento-monumento construído pelos técnicos de televisão para perpetuar o instante em que Portugal se tornou membro da CEE. Uma construção que desafia e antecipa o trabalho da escrita da História na Pós-Modernidade, impondo, por isso, ao historiador novos desafios.
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