Singular registo etnográfico dos povos, os postais ilustrados atravessaram a modernidade ligados às formas mais íntimas de comunicação interpessoal. Fenómenos absolutamente populares, revelaram-se inclusive instrumentos de promoção turística e de publicidade. No entanto, é na fixação da memória que estes meios de comunicação efectivamente se consolidam. Marcando um modo específico de ver ou a produção de um olhar, os postais ilustrados são, por isso, um campo inesgotável de análise interdisciplinar das suas linguagens: por um lado, da linguagem icónica que define a sua dimensão visual, onde buscamos a imagem que uma dada cultura tem de si e, por outro, da linguagem epistolar que revela a originalidade de um espaço privado de comunicação, remetendo para a esfera das relações de intimidade. Neste sentido, uma abordagem histórica dos postais ilustrados da região noroeste de Portugal, como a que propomos no âmbito deste trabalho, aspira necessariamente à descoberta de um imaginário popular compreendido historicamente por uma ideia tendencialmente centrista de lusofonia. Que representações identitárias haverá nas paisagens, nos edifícios, nos cenários políticos, nos trajes populares e nos tipos de população (citadina, camponesa, piscatória) recorrentes nas ilustrações postais do Norte Litoral português? Ainda que discutível a vários níveis, a comunicação lusófona passa também por este particular modo de interacção social, o que constitui os postais ilustrados como um contributo para a definição do próprio conceito de lusofonia.
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