Ana Lucia Silva Enne, Marialva Barbosa
O texto procura refletir sobre a construção do jornalismo sensacionalista no Brasil enfocando num primeiro momento - considerado como gênese desse tipo de construção narrativa - os jornais da década de 1920, quando este tipo de notícia foi fundamental para a popularização do jornalismo diário, sobretudo, no Rio de Janeiro. Todos os jornais que fizeram das "tragédias" ou das "notas sensacionais" (como se dizia na época) o principal tema de suas notícias atingiram tiragens surpreendentes, como, por exemplo, os 120 mil exemplares de Crítica, jornal que circulou na cidade entre 1928 e 1930. Partindo da premissa que esse tipo de construção narrativa apela a um imaginário que navega entre o sonho e a realidade, essas notícias descrevem, por outro, conteúdos imemoriais, que aparecem e reaparecem periodicamente sob a forma de notícias. Mudam os personagens, não as situações. De tal forma que podemos dizer que existe uma espécie de fluxo do sensacional que permanece interpelando o popular a partir de uma narrativa que mescla ficcional com a suposição de um real presumido. São temáticas que repetem, com as inflexões necessárias ao tempo e lugar de sua construção, os mitos, as figurações, as representações que falam de crimes e mortes violentas, de milagres, de desastres, enfim, de tudo o que foge a uma idéia de ordem presumida, instaurando a desordem e um modelo de anormalidade. Num segundo momento, refletiremos sobre alguns desdobramentos desse fluxo do sensacional na grande imprensa carioca, enfocando especificamente o caso "Mão Branca" no início da década de 80. Através da figura desse "matador" / "justiceiro", que ocupou durante meses páginas internas e primeiras páginas de jornais assumidamente "sensacionalistas" do Rio de Janeiro (como Ultima Hora e O Dia) e da imprensa dita "séria" (como O Globo e o Jornal do Brasil), pretendemos demonstrar como tal fluxo, acima descrito, se reconstrói em novas tessituras, a partir de contextos específicos, em um jogo entre estruturas e conjunturas. Acreditamos que, através do caso "Mão Branca", podemos refletir sobre o caráter ficcional da narrativa jornalística, através de suas imbricações com o modelo de objetividade pretendido pelo jornalismo carioca no contexto descrito.
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