O presente artigo brota da constatação de que, desde os seus inícios, com Frege, Russell e Wittgenstein, a filosofia analítica partiu do pressuposto de que Kant era o seu principal inimigo de entre os grandes autores da história da filosofia. Uma vez eliminados o papel fundamental da ideia de um sujeito de conhecimento e o psicologismo que daí se seguia, e reposto no seu devido lugar, quer dizer, depurado de implicações epistemológicas espúrias, o estatuto da lógica como empreendimento radical de fundação da matemática e da ciência de modo geral, Kant foi declarado oficialmente morto. O desenvolvimento da lógica, contudo, cedo mostrou que os problemas fundamentais da filosofia analítica, contra todas as expectativas, continuavam, no essencial, a ser justamente aqueles que tinham ocupado o filósofo de Königsberg na Crítica da Razão Pura, sem que se vislumbrasse qualquer solução definitiva ou satisfatória a seu respeito. Assim, na sequência da mais recente historiografia e do seu próprio trabalho sobre o assunto, o autor do presente artigo desenvolve o tratamento da questão no que se refere ao Círculo de Viena, mostrando explicitamente as motivações antikantianas desse movimento bem como as origens das mesmas nos primórdios da filosofia analítica. Destacamse os compromissos e cumplicidade de ambas, jamais confessados ou admitidos pelos respectivos autores, com o kantismo.
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